Bôla de Lamego: Socalcos de massa

 

Socalcos de massa folhada

“Quem passa por Lamego e não prova a Bola da Sé é como quem vai a Roma e não vê o Papa.” Quem o diz é Guilhermina Pereira, proprietária da Pastelaria da Sé e filha de Álvaro e Maria da Conceição, fundadores deste recanto de sabores. Aberta desde 1966, a Casa das Bolas, como é mais conhecida, resultou do sonho desse casal de pasteleiros. 

É deste local que saem, em média, 60 bolas por dia, maioritariamente bolas da casa, com um recheio generoso de presunto e fiambre. Para além deste petisco típico de Lamego, que diariamente cai nas graças dos turistas, há também bolas para outros paladares.

O cardápio é vasto e para todos os gostos. Há quem não abdique do presunto na bola e goste de lhe juntar salpicão em vez do fiambre.Há os amantes da bola de frango e os apaixonados do recheio de carne emvinha-d’alhos. Desengane-se se pensa que a variedade se esgota aqui. Falta ainda enumerar os recheios “marítimos” que constam da ementa. Assim, pode também provar a bola de bacalhau e de sardinha. 

Se porventura pertence ao grupo dos que preferiu excluir animais da sua roda dos alimentos tem sempre à disposição uma bola vegetariana, desde que a encomende. A par de toda esta oferta poderá ainda pedir, também por encomenda, uma bola exactamente à medida da sua gula e dos seus caprichos, repleta dos recheios que ouse experimentar. 

Um segredo escondido na massa

Comum a todas as bolas é a suavidade da massa, que se consegue fazendo uma “massa de pão normal”, misturando farinha, sal, fermento e gordura. Apesar de parecer um processo básico, rezam os dizeres lamecenses que os bons ingredientes não bastam. Há, pelos vistos, “um segredo bem guardado” no processo de a trabalhar.

Para esta delícia feita em camadas diz-se até que “não há propriamente uma receita” e se há, tarde ou nunca será revelada. Fica, assim, por encontrar a fórmula mágica desta alquimia de massas e recheios, mas resta o contentamento de saber que podesempre cortar mais uma fatia. 

Guilhermina avisa que a textura destas bolas é “muito mais suave do que as bolas feitas em casa, que ficam sempre mais rústicas”. Para além disso, estas também têm a especificidade de serem “mais baixinhas e fofinhas, precisamente por terem esta massa meia folhada”.

Talvez por todos estes factores, a maior parte dos turistas não fica indiferente aos prazeres que estes sabores lhes proporcionam,e continuam a procurar a Pastelaria da Sé para apreciar aquele que já é considerado um produto característico do Douro. A regra é que, depois de sucumbirem à gula e darem a primeira dentada, a grande maioria fica arrebatada e “quer sempre um pouco mais”.

Sabor irresistível

A fama que se vai dilatandopor Lamego já ultrapassou fronteirase, apesar de não ser hábito venderem grandes quantidades para o estrangeiro, sabe-se, na pastelaria, que os clientes vão buscar bolas propositadamente para levar para fora e para dar a experimentar.

A comprová-lo existe“um episódio curioso”, decorrido há uns anos, com um cliente proveniente do Brasil. Após ter chegado a Lamego e ter provadoa bola da casa, regressou ao outro lado do Atlântico na posse docartão-de-visita da pastelaria. Passadouns anos um outro senhor, também ele brasileiro, apresentou-se na pastelaria com esse mesmo cartão-de-visita na mão. Tinha-lhe sido dado pelo primeiro, com a recomendação de visitar a Casa das Bolas se acaso viesse a Portugal. “Quando o senhor nos encontrou demonstrou uma imensa felicidade e pediu para provaresta maravilha que havia saboreado há uns anos atrás”, conta Guilhermina. 

As bolas de Lamego vendem-se durante todo o ano, com especial incidência nos meses de Verão. Este incremento na procura deve-se maioritariamente ao fluxo de turistas que se deslocam em massa à região e às comunidades emigrantes que regressam para férias. As bolas de Lamego são uma marca registada e custa 7,5 euros cada unidade.

 

 

 

Texto: Patricia Posse | Daniel Faiões

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